O tempo que levei entre a pesquisa de campo e a decisão de elaborar este livro e os anexos em DVD ocorreu entre 1994 a 2010.
A viagem para o Brasil Central foi marcada por sentimentos fortes de emoção, de um profundo desejo de realizar o trabalho com os índios Karajá, e de
também fazer jus ao honroso convite do Dr. Antônio Alexandre Bispo, na época diretor de Etnomusicologia do Institut fur hymnologische und musikethnologische
Studien/Maria Laach, para integrar o grupo de pesquisadores e colaboradores do projeto dedicado à pesquisa da música dos índios do Brasil.
Como colaboradora do projeto dedicado aos índios, estava na época estagiando no setor de Etnografia do Museu Nacional do
Rio de Janeiro, com a incumbência de dar andamento aos trabalhos da Etnomusicóloga Helza Cameu, aposentada havia mais de dez anos. Quando recebi o
convite para ir a campo levei o fato ao conhecimento aos meus superiores do setor. Segundo os seus entendimentos, uma expedição desta envergadura teria
que ter representantes oficiais da Instituição. A seguir, foram trocadas correspondências entre o Departamento de Etnografia com o chefe do programa
alemão dedicado à pesquisa da música dos índios do Brasil, e finalmente foi organizada uma equipe para fazer a viagem para o Brasil central.
Segundo o regulamento do Instituto alemão como o convite inicial foi feito em meu nome, eu também era responsável pelo orçamento das viagens.
Recebi o montante destinado à pesquisa pelo Banco do Brasil, e efetuei pagamentos com cheque nominativo para todos os pesquisadores, no valor
correspondente ao custo dos transportes aéreos, e todas as necessidades durante o trabalho de campo.
Enfim, chegamos a São Félix do Araguaia, a cidade mais próxima da maior aldeia Karajá, em agosto de 1994. Foram
feitos os primeiros contatos na aldeia e na FUNAI. Passamos alguns dias entre rápidas visitas à aldeia e, logo após o primeiro ritual noturno da dança
dos Aruanã, os pesquisadores retornaram.
No início da segunda semana, ainda em São Félix, retornei os contatos com os administradores da FUNAI, e apresentei toda
documentação do Instituto alemão referente a minha responsabilidade na pesquisa junto aos índios. Na ocasião recebi não só autorização, mas um
sensível apoio para realizar os trabalhos em campo. A partir desse momento providenciei o material necessário e iniciei minha caminhada. Quando
senti, já estava na voadeira escutando o índio piloto puxar o cabo de aço que aciona o motor. Enquanto nos afastávamos, passei um olhar ligeiro ao
meu redor. Estava anoitecendo, e não havia ninguém mais no cais. Poucos minutos depois podia-se ver, à nossa frente, um mundo de água, um céu sem
fim e sentir um silêncio profundo. Naquele momento acreditei que a força do destino me levava para a aldeia Karajá. Respirei fundo, e me entreguei
ao céu. Não tenho dúvida de que, a partir daquele momento, todos os anjos me acompanharam.
Os anos foram-se passando e, pelo caminho, fui encontrando profissionais que conseguiam perceber a importância e o valor da
pesquisa dos índios, e me incentivavam a prosseguir os estudos sobre os Karajá. Em 2010 algumas circunstâncias assinalaram a oportunidade de reunir
todo o material coletado durante a pesquisa de campo, como também todos os textos que elaborei no decorrer dos tempos, e assim poder concretizar este intento,
a fim de disponibilizá-lo aos índios, como também aos especialistas de áreas afins.
Deixo muitas dividas de gratidão: aos Índios Karirama Waihore Karajá e Ijesebere Karajá, professores da aldeia de Hãwaló,
pela inestimável colaboração, assim como também a todos os índios que colaboraram e me acolheram; ao Maestro Odemar Brígido, meu irmão, e meu mestre;
à Antropóloga Berta Gleizer Ribeiro, minha orientadora do trabalho final no Mestrado em Antropologia da Arte; ao Compositor João Mendes, colega e
colaborador do trabalho dedicado aos choros das índias; à Filósofa Fayga Ostrower que, com assertividade, reforçava a tese de que este trabalho deveria
ser entregue aos índios; à Filósofa Rosa Maria Dias, orientadora do meu trabalho final do curso de Pós-graduação em Filosofia da Arte; ao Professor
Cláudio Vargas, meu mentor em música eletrônica; ao Engenheiro Mauro Brígido, pelo projeto do DVD e do site; aos Programadores Visuais Maurício Pavão e
Viviane Jota, pelas idéias preliminares da capa deste livro, à Antropóloga Chang Wang pelo convite para participar do projeto-PRODOCLIN - Museu do Índio do
Rio de Janeiro; ao Dr. Léo Christiano Soares Alcina, pelas informações relativas à parte de finalização editorial; à Professora Magda Torres,
devotada amiga, revisora de todos os meus textos, e aos pensamentos bons de tantos outros colegas e amigos.
Agradeço a minha família pelo amor, apoio e compreensão, em especial quando necessitei utilizar uma exaustiva repetição das
gravações dos cantos Karajá.
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